terça-feira, maio 29, 2007

[Tua carta é liberdade]

Tua carta é liberdade
E as palavras, paixão
Constituem e certificam
A esperança natimorta
De sorrisos contidos
E lágrimas vaporizadas

Cadavericamente vivos
Gotejando terra, areia e pedra
Como quem zomba do prazer
E digere o ar
Afeiçoando-se à pele de gente
Como a sandália faz com o chão

domingo, maio 27, 2007

Certo mal-estar... estranho efeito da vida que novamente corre por meu corpo. Foi-se o tempo do pedir; é hora de ser um deus.

sábado, maio 26, 2007

[Parto...]

Parto
De idéias
Concepção
Dolorida
Que rasga a carne com carne e sentimento

- Nada de química!
Serotonina, Adrenalina...

E nasce violentado pela interpretação

sexta-feira, maio 25, 2007

[Teu é o ardor mineral...]

Teu é o ardor mineral
Que, sutilmente,
Desperta um querer deslocado do mundo,
Do que é certo,
Possível
E irritantemente prazeiroso

Quisera eu um poema
E tu mo darias sem esforço

Odeio-te
Na mesma proporção em que sublimo

quinta-feira, maio 24, 2007

[Brilha...]

Brilha
- Poéticamente -
Por ser, tua obra,
Um complexo

terça-feira, maio 22, 2007

Concorrer

Corria, louco, enquanto brincava de esquecer. Passos firmes, respiração equilibrada - certo de que o espaço seria seu. Algo que pode ser seu.

Preciosa y el aire

"Su luna de pergamino
Preciosa tocando viene
por un anfibio sendero
de cristales ylaureles.
El silencio sin estrellas,
huyendo del sonsonete,
cae donde el mar bate y canta
su noche llena de peces.
En los picos de la sierra
los carabineros durmen
guardando las blancas torres
donde viven los ingleses.
Y los gitanos del agua
levantan por distraerse,
glorietas de caracolas
y ramas de pino verde
*
Su luna de pergamino
Preciosa tocando viene.
Al verla se ha levantado
el viento que nunca duerme.
San Cristobalón desnudo,
lleno de lenguas celestes,
mira la niña tocando
una dulce gaita ausente.
Niña, deja que levante
tu vestido para verte.
Abre en mis dedos antiguos
la rosa azul de tu vientre.
Preciosa tira el pandero
y corre sin detenerse.
El viento-hombrón la persigue
con una espada caliente
Frunce su rumor el mar.
Los olivos palidecen.
Cantan las flautas de umbría
y el liso gong de la nieve.
¡Preciosa, corre, Preciosa,
que te coge el viento verde!
¡Preciosa, corre Preciosa!
¡Miralo por donde viene!
Sátiro de estrellas bajas
con sus lenguas relucientes..."
Lorca, Federico Garcia; Romancero Gitano

[Respiras em vão...]

Respiras em vão,
Pois quero sufocar-te
Beijas-me sem saber da noite,
Do nato nada que dissimulo,
De Sade
E do sal

segunda-feira, maio 21, 2007

Nós somos gotas

"Costumo pensar mais no que me aconteceu, que em conjecturas regurgitantes. Nada dessa pseudo-teoria do caos - tão na moda - até porque todos falam dela, mas ninguém nunca a estudou – Entendam por ninguém pessoas que nunca estudaram matemática e os malditos sistemas lineares ou não-lineares, seja lá o que esses nomes signifiquem. Um amigo meu, engenheiro, disse que não existe equação que expresse o gotejar. Disse que existem equações para tudo, mas não nesse caso. Se isto for verdade, talvez eu respire com um pouco mais de alegria e esperança."
Retirado de um conto incompleto

sexta-feira, maio 18, 2007

[Lista fechada..]

Lista fechada
E voz estreita;
Teu nome,
Mas não só

É inconstância;
Por tão seguros
Que a alma e um corpo
Têm sido em mim

quarta-feira, maio 16, 2007

A crise da crise

Soube, por intermédio estranho, que não houve mais gritos, nem pranto. Tampouco qualquer coisa próxima à alegria. Reina, agora, o marasmo - derivado desse não-conflito perdido em si mesmo.

segunda-feira, maio 14, 2007

Incompleto

Para onde me impelem as lembranças? Para aonde foi a certeza? Que capacidade de análise sobre si possui uma mente atribulada?
Quando todo caminho parece ser mais doloroso que a imobilidade, que confiança posso ter no julgamento meu?

DESENCANTO:
- Que os poucos momentos de completude valham por todos os outros!

domingo, maio 13, 2007

Piada pronta

"Papa critica o machismo"
"Amanheceu mais uma vez
É hora de acordar para crescer"

Sentido pervertido, mas não menos possível, não menos usual, não menos certo

Estudo

A meia-luz de um nascer prematuro e anêmico do sol invadia o quarto lentamente. Era domingo, o que significa certa calmaria pelas ruas de São Paulo; poucos sons, amplificados pela acústica de estreitas ruas espremidas por prédios no centro. Dentro de um deles, o silêncio imperava de tal modo que o porteiro encontrava dificuldades para manter-se acordado, mesmo sendo ajudado pelos incontroláveis alarmes de carro.
Dez andares acima, o chão de taco, junto às paredes brancas, formava o cômodo mais oco daquele prédio. Mais que qualquer apartamento vazio, por mais vazio que aquele fosse. Havia também uma janela – quase uma parede de vidro, definidora da diferença entre cair e se machucar e cair e esquecer o que é dor –, uma poltrona de pés em madeira escura – o estofado, couro artificial branco – e alguém sentado nela.
Olhava fixamente para o lado de fora, mas sem fixar-se em ponto algum, como quem contempla um todo aparentemente maior do que o limite da janela panorâmica, de maneira obcecadamente difusa e compromissada.
A mão segurava um copo old-fashioned, ironicamente meio-cheio, meio-vazio. Scotch, provavelmente, mas não havia sinais de qualquer tentativa de violação da borda do copo, tampouco quaisquer ondas na superfície do líquido.
Mas como todos os impérios, logo a nulidade foi-se embora – Asa Branca –; a porta, separada do elevador por uma ante-sala, passou a reclamar e anunciar, em bom gemido, que alguém vinha. O barulho seco do salto com o piso de madeira desencadeou um tranqüilo e inédito gole: descanso. De todo modo, o restante do corpo continuou em estado letárgico, mesmo após o repouso de duas insinuantes mãos em seus ombros. Era manhã de domingo.
Dotadas da suavidade mais sensual que já pude observar, tais mãos aproveitaram o frouxo nó da gravata e a atiraram para longe. O colarinho, após lento desabotoar, foi alívio e provocou um fechar de olhos consciente do que iria acontecer. O restante dos botões saía das casas conforme o par de mãos deslizava pelo peito a cada segundo mais nu, a cada milímetro mais sereno, mais calmo.
A última gota de malte precedeu a revolução. Levantou-se da poltrona encarando a dona das mãos, sem qualquer sinal de agressividade. É fato que a sedução consistia, ali, em confiança e controle, sendo tudo tácito, inconscientemente acordado entre as desejosas partes. Tomou-a em seus braços e consumiu sua alma.

sexta-feira, maio 11, 2007

Perde-se diariamente quando há uma aposta. A cada novo dia sem o resultado necessário, sinto que Fortuna gira, com suas femininas mãos, a minha sorte para mais longe.
- Rompe o laço que te prende ao imobilismo!
Que mais posso perdir-te? Deixas escapar o pouco que te faz bem, que te agrada, em favor de uma angústia tola? É o que queres?
Parece-me que já fizeste a escolha.

quinta-feira, maio 10, 2007

Sistemáticamente logrado por ninguém mais que ele mesmo. O mesmo. Sempre. Até que um carinho qualquer, rotineiro, chamou sua atenção. O simples atentar para algo diferente despertou o restante do corpo.
Questionou-se incessantemente; que há com o sentimento antigo? Onde está a força de antes? Qual a razão desse estímulo, se antes nada tocava-me?

terça-feira, maio 08, 2007

Libertas Quae Sera Tamen

A mais asfixiante forma de libertar-se é a espera. Cruel, abjeta, renegada... mas, às vezes, única. Seja bom ou não o resultado, agir se torna um opiáceo, esperança reproduzindo-se em si mesma a cada pulsar dolorido. Palavra gasta, mas não quando sinônimo de dor; vaticina a terrível sentença - em vão tento mudar por força própria.
Nada de estrutura, nem constrangimento. Nada de senhor, nada escravo. São dois universos, dois mundos, dois seres simplesmente independentes, por mais que um deles sinta-se cativo. Ao que é real, prisioneiro de fato, resta a chance de agir sem viciar-se. À mim, não.
Em minha volta, segurança e confiança. Barbarismos de um menino que pensa ser homem e moderno. "Moderno"... É preciso ser "sensível", sem deixar de ser "másculo", entre tantos outros termos copiados de revistas femininas pretensamente "modernas".

domingo, maio 06, 2007

[Que seja minha a madrugada...]

Que seja minha a madrugada
De silêncio solipsístico
De estrofação imprecisa
E inquietação reconfortante

Que seja minha a intermitência
Da alma inexistente
De folha, já tão seca,
Sentimento e inconstância

Laço

Joga a vida
Todo o tempo
Sem que notem

É do laço
Louco e estreito
Entre vós
O que sentes

sábado, maio 05, 2007

Estudo do Emo

Tom Zé estudou o pagode. Acho que vou estudar o "emo".
Lembranças de uns (poucos) anos atrás:

Taking Back Sunday: Em que língua foi escrita e cantada "Cute without the 'e' "? Inglês Não deve ser.
É preciso ser afetado, no pior sentido sem conotação homofóbica, para ser vocal de uma banda Emo?

Quase Inveja

Cantei a melancolia como quem deseja e não tem. Ou melhor; cantei-a como se estivesse em mim, constantemente, mas quieta. Como se fosse possível optar, repentinamente, por um prazer imaginado. Também um sentir falta de sentir algo... algo que, certamente, não imaginava e nem buscava imaginar... simplesmente não o aceitava.
Caóticamente inspirado, hoje, rejeito a inspiração. E também o trabalho objetivo.
Fico com o nada, que quando é sentido... quase real, quase certo, é quase a verdade.

Enquanto a noite for companheira, e não clausura

Levanta tua fronte e percebe que a capacidade do sofrimento é a vida, e que isso é belo. Há algo em ti que seja maior? Nem teu conhecimento, nem tua sabedoria, nem tuas idiossincráticas críticas; tácitas, ácidas e, como tu, vãs.
Que a dor não é prazerosa como um fim, mas como triunfo. Não seja o mal-estar teu ápice, nem mesmo as náuseas, mas sim alumbramento e percepção. Lembra, em meio ao sangue querido derramado, que teu espírito ainda é livre.
Minha prisão não foi a carne, mas sim a falta dela. Mais que síntese... Um moto-contínuo. Pois alma e corpo desejam-se de maneira sacra e ardente. Entende que a dor difere da morte na mesma proporção em que o exílio, do banimento?
Levanta tua fronte e prossegue enquanto a noite for companheira, e não clausura.

Água Quente

Água quente. Bem quente. Pequeno milagre diário; incólume. Meu pescoço chega a doer por ficar tanto tempo dobrado – o corpo corcunda – enquanto a água bate na nuca. O azulejo branco ajuda meu olhar a fixar-se em algo sem que preste qualquer atenção. É luxo... sei bem, mas penso no gigantesco rol de minhas pretensas boas ações ambientais e finjo estar empatado com o planeta. Isso basta naquele instante.
Não choro, não penso, não me expresso. O som e a fumaça são suficientes, alimento-me deles. O olhar, como disse, não é perdido. É simbólico. O grau máximo de abstração sem coma, hipnose ou rito. É pensar em si sem pensar... quase Caeiro, mas menos – muito menos – arrogante.
De súbito, deixo esse prazer; sem método, sem racionalizar. O espelho é suficiente pra que minha vaidade se revele. A barba sempre curta. A sobrancelha, perfeita, sem ser feminina. O cabelo, suficientemente arrumado, sem deixar de transmitir certa sensação de despreocupação – proposital. Perplexo fico, durante um bom e suficiente minuto, com a beleza dos meus dias, até lembrar do que existe no cômodo ao lado.
Tão frio é o chão que, antes mesmo de abrir a porta deste simulacro de sauna e sentir o ar seco envolvente, os pelos do corpo se arrepiam, fazendo com que me sinta menos humano que antes.
É só a necessidade que nos lembra a ridícula condição de existência a qual estamos... bem... estamos... Limitação... A característica mais humana que existe é esquecê-la. Hora ou outra deparamo-nos com ela, mas logo inventamos algo para esquecê-la novamente. Água quente... é um milagre.