terça-feira, março 28, 2006

Mais um homem, mais um humano...

Eis que, há muito tempo atrás, um Rei estava indeciso a respeito de seu aniversário. Uma angústia enorme consumia-o na véspera; não sabia se era bom ou ruim fazer aniversário. Pensava, divagava... sem obter resposta. Resolveu então chamar os mais afamados pensadores do Reino. Um deles, chamado Clíston, formulou a seguinte resposta:
- Ora, alteza. O aniversário de uma pessoa só pode ser motivo de júbilo, pois é a data que marca mais um ano de vida completado. Comemora-se a saúde, o tempo que passou com os amigos, a vitória sobre as dificuldades... enfim, devemos celebrar o triunfo, no ano que passou, sobre a morte, que cerca a todos nos, e renovar os votos de que a pessoa triunfe por mais um ano.
Esboçando certa satisfação com a resposta, o Rei perguntou se havia alguém que desse uma opinião contrária. Os "sábios", atemorizados pela cara de satisfação do Rei, não se manifestaram. Foi então que Demói, aprendiz de um dos pensadores, levantou sua mão. Levaram-no à presença do Rei e fizeram com que falasse:
- Majestade, temo que minha resposta seja pouco embasada em filosofia, senão em minha própria vivência. - Riram-se dele, pois era jovem. O Rei exigiu silêncio e o magro-pálido Demói prosseguiu. - Penso... ahn... acho que não há o que se comemorar no aniversário! - Disse, finalmente, com firmeza. Houve burburinho e pedidos para que continuasse. - Alteza, todos nós morreremos. não escaparemos disso. Todo dia vivido é um dia a menos. Todo momento é morte. Toda vida é sinal de fraqueza; não há homem que possa vencer o maior desafio de todos. Para mim, portanto, comemorar o aniversário é como comemorar a morte!
O impacto causado pelas palavras do jovem foi devastador. Pelo salão, houve discussões e mais discussões. O Rei, que pareceu refletir por alguns instantes, sentou-se no trono e exigiu silêncio, antes de emitir esta ordem:
- Jovem, sabes quão sábias e, ao mesmo tempo, inúteis são suas palavras? Sabes o quão corajoso e covarde és ao proferí-las? Ordeno que morras, pois fizeste mais mal do que o maior dos assassinos! Cometeste um parricídio ao matar nossa ilusão.
E assim morreu Demói.

Por Vítor.
(escutando Toranja - Musica de Filme)

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